Em São Paulo, a
quarentena deverá durar até 22 de abril, mas os paulistas não estão sozinhos;
confira os relatos de outras pessoas que também estão em casa, em cinco países
diferentes
Em
todo o estado de São Paulo, o período estabelecido para a quarentena em função
da Covid-19 deverá perdurar por mais duas semanas, até o dia 22 de abril. Não
só no Brasil, mas em todo o mundo, diferentes instâncias governamentais estão
tomando as medidas que consideram mais adequadas para “achatar” a curva de
infectados pelo novo coronavírus e, dessa forma, causar o mínimo impacto
possível nos sistemas de saúde. Isso inclui quarentenas sugeridas ou forçadas,
ou toques de recolher. Naturalmente, tudo isso afeta a vida rotineira das
pessoas — e muito! Nesta
reportagem, você vai conhecer algumas dessas histórias de pessoas ao redor do
globo que, a exemplo dos sorocabanos, estão em quarentena, e o que elas estão
fazendo para lidar com isso.
Em Barcelona, a saída é permitida só em casos essenciais. Caso contrário, é preciso justificar (Foto: Instagram bc.love) |
Espanha
Em
Barcelona, o jornalista e professor Walter de Luca, 63, já está na terceira
semana de quarentena. Sair de casa só é permitido se for para tarefas
essenciais, como ir ao supermercado, e, mesmo assim, somente uma pessoa de cada
vez. Caso seja necessário sair de carro, ou em mais de uma pessoa, é necessário
apresentar uma justificativa, para evitar multas pelo descumprimento da
quarentena. “Na Espanha”, conta o professor, “está havendo muita solidariedade.
Médicos e profissionais da saúde aposentados se dispuseram a voltar a trabalhar
para poder reforçar as equipes de saúde nos centros de atendimento. Há
mobilização de pessoas para ajudar os idosos em suas necessidades, executando
tarefas que precisam ser desempenhadas fora de casa, como comprar alimentos,
por exemplo, para que eles fiquem seguros. Deve-se aproveitar este momento para
preservar a própria vida e a do próximo. Se estivermos desunidos, será muito
mais difícil.”
África do Sul
Pranil
Dullabh, 30, que trabalha na área financeira e vive nos arredores de Johanesburgo,
a capital da África do Sul, conta que, no início, as pessoas não estavam
aderindo à quarentena recomendada, então ela se tornou obrigatória por um período
de 21 dias, a partir de 27 de março. “Apenas trabalhadores de serviços
essenciais estão autorizados a transitar pelas ruas. Ninguém pode se exercitar
do lado de fora de suas propriedades, nem mesmo para passear com cachorros.
Você só pode sair de casa para comprar mantimentos essenciais. Álcool e
cigarros não podem ser vendidos.” Ele conta que, como continua trabalhando
remotamente todos os dias, o grande impacto que a quarentena teve em sua rotina
é o tempo que ele economiza no trânsito, mas diz que se preocupa com alguns
setores da economia em especial: “Pense, por exemplo, na indústria do turismo e
do entretenimento. É triste ver que essas pessoas serão afetadas tão
fortemente.” Aos brasileiros, ele deixa um recado: “Vamos ficar em casa por
enquanto, para poder voltar logo ao normal. Estamos numa situação similar, em
que muitas pessoas mais pobres serão afetadas se o vírus não puder ser
controlado.”
Markus
Einramhof, 31, vive em Viena, a capital da Áustria. Desde abril, ele está
desempregado, mas conta que não deixou o emprego devido à pandemia: “Eu só tive
o azar de sair pouco antes de a situação ficar séria, então o meu próximo
emprego, que eu já encontrei, terá de esperar. Isso ajuda a ficar em casa; pelo
menos eu sei que as coisas logo vão melhorar.” Ele diz que, por enquanto,
recomenda-se que as pessoas só saiam de casa para trabalhar — desde que o trabalho não possa ser
realizado remotamente —, para comprar mantimentos ou ajudar
as outras pessoas. O uso de máscaras é obrigatório nos estabelecimentos, bem
como a distância entre as pessoas, de pelo menos um metro. “Isso é controlado
pela polícia, que pode multá-lo se virem você num grupo grande de pessoas”, ele
reforça. “Mas não importa o quanto a situação seja desagradável, nós precisamos
considerar as partes positivas. Quando isso passar, nós saberemos apreciar
melhor uma coisa que não pensávamos que poderíamos perder: a nossa liberdade.”
Doron
Guy, 32, é natural de Ramat Raizel, um pequeno vilarejo próximo a Jerusalém,
mas trabalha em Bnei Brak como engenheiro. Há mais de cinco semanas ele está
confinado em casa. “Todas as noites o nosso primeiro-ministro transmite novas
diretrizes. Hoje nós só podemos sair de casa para ir a supermercados, farmácias,
postos de gasolina ou bancos, por exemplo, ou para trabalhar em atividades
essenciais, como a polícia ou os bombeiros. Se precisarmos sair, devemos
fazê-lo com luvas e máscaras. As multas para quem quebrar a quarentena podem
variar entre R$700 e R$7 mil”, ele conta. A exemplo do que vem acontecendo em
outros países, ONGs estão se mobilizando para ajudar aqueles que não podem sair
de casa, como os idosos, levando comida e medicamentos diretamente às portas de
suas residências. Na foto, Doron e a esposa estão numa fila de supermercados, em
que só são permitidas quatro pessoas por vez.
Finlândia
“A
região mais populosa da Finlândia está em quarentena. Você só pode sair ou
entrar se tiver uma autorização ou um motivo muito plausível. Há muitas batidas
policiais ao redor da fronteira e todos os carros estão sendo parados. Além
disso, todos os restaurantes e bares estão fechados.” Quem descreve a situação
é Kimmo
Frisk, 30, engenheiro de softwares residente em Espoo. Ele diz que não podia
sequer imaginar como o mundo estava despreparado para lidar com uma situação
como esta e que, apesar de ainda não ter sentido grandes efeitos em sua vida
pessoal, teme que a crise econômica seja tão prejudicial quanto a crise de
saúde. “Mas é preciso se manter forte”, ele continua. “As coisas parecem ruins,
mas vão melhorar. Em tempos como estes, o melhor das comunidades vem à tona. No
nosso caso, o jeito de manter o ânimo é ouvindo música juntos — na foto está o meu amigo DJ Jay Crystal
tocando o seu set semanal durante o pôr do sol. Quase todos os dias eles e os
amigos revezam para tocar para a vizinhança no fim da tarde.”
Dj Jay Crystal tocando um set musical para os vizinhos da janela (Foto: arquivo pessoal de Kimmo Frisk) |
Texto: Leticia Foramiglio - (Agência FOCS / Jornalismo Uniso)
0 comentários:
Postar um comentário