sexta-feira, 27 de julho de 2018

30 segundos para o anonimato



O edifício Wilton Paes de Almeida pegou fogo e desabou no antigo centro de São Paulo durante a madrugada no dia primeiro de maio, terça-feira. O prédio tinha 24 andares e à 1h30, o fogo iniciou no quinto andar e se espalhou rapidamente pela estrutura, causando o desmoronamento. Entretanto, um rapaz chamou a atenção de todos pelo ato de bravura, que infelizmente não terminou bem.
Um homem com cerca de 30 anos, saiu rapidamente do local; tendo em vista o número de pessoas que ainda estavam lá, resolveu voltar para ajudar. A imagem do homem suspenso no alto do prédio comoveu diversas pessoas causando pânico. Infelizmente o prédio desabou juntamente com o homem.
O incômodo surgiu na forma que a mídia (Jornal Nacional – rede Globo) expôs o caso, repetindo diversas vezes a situação do homem suspenso no alto do prédio, tentando ser salvo pelos bombeiros. Essa cena foi mostrada mais de uma vez durante o jornal. Com o intuito de provocar comoção por parte dos telespectadores, sem respeitar os familiares e até mesmo a vítima. 
Ao analisar o tema identifiquei três eixos importantes: o fato, a condição e a notícia. O primeiro seria a exposição, pois ele causa comoção nas pessoas pelo número de repetições por parte da mídia. Em segundo a condição para a existência do fato, sendo a vítima, dando suporte para o fato. Por último a notícia, como ela foi trabalha pelo veículo ao expor o que aconteceu, intermediando entre o meu fato (exposição) e a condição (ocorrido com a pessoa). Sendo assim, a mídia reutilizou do serviço dela mais de uma vez para prender a atenção dos telespectadores.
É importante ressaltar o fato dessa notícia ser uma tragédia. Hoje em dia muitos dos veículos de comunicação estão optando por matérias de violência ou tragédias por causarem impacto na sociedade e repercussão. O fato de expor um homem em um prédio entre a vida e a morte de alguma forma chama a atenção de quem assiste, mas não é o certo. Preservar a imagem de uma pessoa em situação de risco é importante assim como noticiar o que está acontecendo, mas a repetição não.
Outro ponto foi o fato deles terem na hora da edição circulado os bombeiros e até mesmo a vítima, dando o foco na situação. O discurso tanto por parte dos bombeiros quanto da jornalista acho que não tinha relevância para a situação. Em entrevista, foi falado que se tivessem mais 30 segundos teriam salvado o homem. Acredito que seja difícil mensurar o tempo e até mesmo prever se teriam conseguido ou não. Portanto, usaram mais uma vez o recurso de repetir a cena, com intuito de promover a ação dos profissionais com uma possível solução para algo que não aconteceu.
A partir disso é possível dizer que o Jornal Nacional usa de elementos para prender o telespectador. A repetição da notícia causa comoção nas pessoas, mas se esquecem de proteger a vítima e acabam expondo mais de uma vez. Infelizmente o fato de querer vender o material é mais importante ao invés de pensar como aquilo vai chegar nas pessoas. A reutilização da mesma notícia para causar impacto é constante hoje em dia nos veículos de comunicação, não acho isso ruim, mas tudo vai depender de como você vai utilizá-la e como você quer que ela chegue para a sociedade.

Texto: Luiz Fernando Moura

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