Num
domingo de manhã (28), no mês de julho, sob o sol escaldante da capital
paulista, a equipe sub-11 do Clube de Campo de Tatuí (SP) venceu a edição
paulista da Iber Cup, que é um dos maiores torneios de futebol juvenil do
mundo, recebendo mais de 50 mil adolescentes por ano em suas competições. Com a
vitória, a equipe de Tatuí garantiu uma vaga na final mundial do torneio, que
disputará em 2020 na Espanha.
Um
grande feito para uma cidade que não tem tradição no esporte, mas que, por meio
de suas equipes de base, vem tentando mudar essa realidade. Segundo o técnico
Luis Eduardo Alvarenga Viana, conhecido como Duza, na cidade o esporte tem como
principal objetivo a inclusão social, o que não impede que crianças e jovens nutram
o desejo de se tornar jogadores profissionais, por mais difícil que seja a
trajetória.
“O
futebol, hoje em dia, exige apoio da família. A grande maioria dos jogadores
atualmente são bem estruturados financeiramente, se comparados aos da década
passada”, avalia Duza, classificando a falta de apoio familiar como um dos
principais problemas. Às vezes essa situação se dá pelo medo de deixar os
jovens se mudarem sozinhos para grandes centros urbanos, pela falta de recursos
financeiros ou até mesmo por medo de tragédias, como o incêndio no Ninho do
Urubu, que vitimou dez jovens atletas.
Lázaro
Renato de Oliveira, 39, é pai de uma das crianças que venceu a Iber Cup. Seu
filho, Mateus Pereira de Oliveira, 11, joga atualmente pelo Desportivo Brasil
de Porto Feliz e pelo Clube de Campo de Tatuí, além de atuar no futsal pelo
ASF/Magnus de Sorocaba e pelo Clube de Campo de Tatuí. Inspirado em Neymar,
Mateus quer ser um grande jogador de futebol, mas, para isso, possivelmente
terá de sair de sua cidade natal. O pai mantém o apoio à carreira do filho, o
que não ocorre em muitas famílias. “Isso sempre passa na nossa cabeça, mas
sabemos que é o sonho dele e que ele está lutando para isso. No início, tenho
certeza de que não será fácil, mas daremos o maior apoio”, comenta o pai do
garoto.
Lucas, desde 2015, joga nas categorias de base do Guarani, em Campinas (SP). FOTO: Israel Oliveira |
Alguns
jovens conseguiram vencer essa “barreira” de sair da cidade, como Lucas
Rodrigues Cardoso, 18, que, quando aprovado para jogar nas categorias de base
do Guarani, em Campinas (SP), teve que deixar o munícipio. Ele conta que seu
pai sempre o apoiou: “Ele me levava para todos os lugares, então foi bem
tranquilo. Para a minha mãe, o baque foi maior. Até aquele momento ela não
tinha nenhum interesse por futebol, então foi bem difícil para ela se
acostumar, mas ela nunca deixou de me apoiar.”
O
jovem também enfrentou alguns problemas de adaptação na cidade grande, algo
comum de acontecer com quem sai do interior. “No início, foi complicado. Apesar
de ir muito para São Paulo na infância, eu não era totalmente acostumado com a cidade
grande, mas, aos trancos e barrancos, eu me virei bem.”
Duza
cita o exemplo de um garoto que foi aprovado no futsal do Corinthians, que
viajava diariamente com seu avô para São Paulo para participar dos treinos.
“Muitas vezes apostamos em alguns jogadores, mas, na hora do investimento,
principalmente na hora de levar o jogador até o clube, falta dinheiro. Porque
hoje você tem que investir no jogador; se você não investir, ele não chega a
lugar algum”, completa o técnico.
Salvo
esses casos, são poucos os jovens da cidade, que, apesar do talento, conseguem
crescer no futebol. A falta de investimento exerce um papel fundamental para
essa situação. “Tatuí sempre teve grandes talentos e era para ter muitos
jogadores profissionais, mas, por falta de incentivo e do próprio investimento,
eles ficaram no meio do caminho. A base do futebol brasileiro se tornou forte
por causa do investimento, mas quem investe são os times grandes, que têm uma
receita maior”, diz o técnico.
Inserir a criança no esporte desde cedo pode
trazer muitos benefícios, porém a idolatria por jogadores famosos pode fazer
com que alguns jovens até mesmo deixem de lado os estudos, depositando todos os
seus projetos no futebol. Quando eventualmente percebem que o sonho não se
realizará de pronto como imaginavam, outros problemas surgem na vida deles e de
suas famílias — segundo reportagem da Veja, de João Marcello
Erthal e Rafael Lemos, publicada em agosto de 2010, no Flamengo, por exemplo,
cerca de 800 crianças participam das “peneiras”, mas apenas 10% delas se tornam
jogadores profissionais.
Sobre
o assunto, o técnico tem uma opinião apreensiva: “A desilusão dos jovens, que a
gente vê, acontece quando eles largam tudo o que têm para se tornar atletas
profissionais. Mas, se não houver o investimento, esses jovens não vão para
frente no esporte. Quando eles chegam a uma certa idade e veem que não vão se
tornaram jogadores, eles já largaram tudo e só focaram nisso, aí vem a
desilusão.”
Isso
já afetou Lucas, mas não impede que o jovem mantenha firme o sonho do sucesso.
“O esporte muitas vezes pode ser cruel, mas ele continua sendo inusitado; tudo
pode acontecer da noite para o dia, por isso devo estar sempre preparado”, diz.
Agência Focs / Jornalismo Uniso
Texto: Deividy José Venâncio
Imagem: Israel Oliveira e Arquivo Pessoal | Luis Eduardo Alvarenga Viana
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