sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sentimento de invisibilidade é recorrente em ciclistas de Sorocaba




Segundo levantamento realizado em 27 municípios brasileiros, como parte da série de reportagens “GloboNews em Movimento”, sobre mobilidade urbana, as capitais do país têm mais de 3.200 km de vias destinadas a bicicletas, correspondendo a 3,1% da malha viária total dos municípios avaliados. A título de comparação, a cidade de Sorocaba tem 100 km, de acordo com divulgação oficial no site da Prefeitura.


Usar a bicicleta como principal meio de transporte é uma alternativa não só para quem deseja evitar congestionamentos, mas também para quem busca uma opção mais sustentável, ecológica e financeiramente. Apesar da extensão das vias na cidade, o grande problema é que boa parte dos motoristas não considera as bikes como um modal de transporte como qualquer outro, conforme apontam muitos usuários.

É o caso de Fernando Freitas, um cicloativista que faz parte do Movimento de Ciclistas em Sorocaba (MCS), um grupo engajado pela melhoria nas condições de mobilidade para aqueles que usam bicicletas na cidade. No caso dele, usar a bike como único meio de transporte já faz parte de sua história pessoal; ele relembra que ganhou sua primeira bike ainda quando criança e, desde então, nunca mais a abandonou. “A minha bicicleta já faz parte da minha rotina, eu a uso cinco dias por semana. Ela é meu único transporte. Só quando está chovendo que eu acabo optando pelo transporte coletivo ou privado”, ele conta.

Freitas trabalha como professor de Geografia na escola Estadual Lauro Sanches, localizada na zona norte de Sorocaba. Ele conta: “Da minha casa, no Jardim Europa, até a escola Lauro Sanches, eu gasto 25 minutos de bike. De ônibus, eu perderia aproximadamente 60 minutos, além de ser muito mais estressante, já que você acaba indo apertado e de pé. Indo de bike eu posso acordar 30 minutos mais tarde e, durante meu trajeto, já vou pensando em como será a aula. Quando chego, estou cheio de adrenalina.”

De acordo com uma pesquisa realizada pelo MCS, segurança e trânsito aparecem em primeiro lugar na lista de problemas enfrentados pelos ciclistas da cidade, em 43% das respostas das pessoas entrevistadas.

O professor conta que já foi fechado várias vezes e que os motoristas passam gritando para ele ir pedalar na calçada. “Existe o senso comum de que lugar de ciclista é apenas na ciclovia. Eu não vejo dificuldade em ter uma bicicleta e um carro compartilhando a mesma via. Mas, a partir do momento que não se tem sinalização e respeito ao ciclista, isso se torna um problema”, afirma.

Mesmo utilizando acessórios de segurança e seguindo as normas de trânsito, a lei não evita que ciclistas como Freitas continuem se sentindo invisíveis no trânsito. “Eu sempre opto por usar roupas e acessórios com cores chamativas. Geralmente eu uso capacete vermelho e tênis colorido; já quando chove, utilizo capa de chuva da cor laranja, para que os motoristas consigam me ver. Mas isso, na maioria das vezes, não impede que haja conflitos”, relata.

O ímpeto de separar a bicicleta dos outros veículos é apenas um dos desafios enfrentados pelos ciclistas. Segundo a pesquisa do MCS, infraestrutura apareceu como principal problema para 33,8% dos entrevistados. A cidade de Sorocaba, que já foi inspiração nacional para as estruturas cicloviárias, hoje apresenta alguns problemas: são exemplos, conforme a pesquisa aponta, a remoção da ciclofaixa da Rua Paes de Linhares, a retirada da faixa de lazer da Av. Dr. Afonso Vergueiro e as obras sem implementação de alternativas na Av. Itavuvu.

As consequências da remoção da ciclofaixa da Av.Itavuvu refletem diretamente no trajeto de Freitas: “Antigamente, eu realizava apenas 70% do trajeto fora da ciclovia. Hoje, com as ciclovias da Avenida Itavuvu subtraídas por causa da BRT, eu faço 100% do caminho no asfalto.”

Outro ponto destacado por Freitas é a falta de conexão das ciclovias entre os bairros. “Falta ligação de ciclovias para os iniciantes. Para mim, que pedalo há muito tempo, não é um problema precisar andar no asfalto, mas as pessoas que pretendem começar a pedalar acabam sendo impedidas ou até desistindo”, ele opina.

As condições de conservação também devem ser consideradas. Segundo o ciclista, a manutenção acontece adequadamente em localidades como o Parque das Águas, mas não de forma uniforme.  “Nós do Movimento dos Ciclistas até mapeamos para a prefeitura os lugares da cidade nos quais existiam buracos e falta de manutenção, mas por enquanto não houve resultados”, afirma.

Para Bruno Melnic, o líder do MCS, não são somente os ciclistas que são afetados pela falta de ciclovias na cidade. Ele defende que Sorocaba carece de investimentos dedicados exclusivamente à mobilidade ativa: pedestres, ciclistas e cadeirantes. “Faltam investimentos em projetos de traffic calming conjunto de medidas que inclui a adaptação do volume, da velocidade e do comportamento no tráfego, para que as ruas sirvam a todos e não apenas aos carros”, completa.




Agência Focs / Jornalismo Uniso
Texto: Daniele Gonzales e Fernanda Sena
Imagens: Daniele Gonzales

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