Segundo levantamento
realizado em 27 municípios brasileiros, como parte da série de reportagens
“GloboNews em Movimento”, sobre mobilidade urbana, as capitais do país têm mais
de 3.200 km de vias destinadas a bicicletas, correspondendo a 3,1% da malha
viária total dos municípios avaliados. A título de comparação, a cidade de
Sorocaba tem 100 km, de acordo com divulgação oficial no site da Prefeitura.
Usar a bicicleta como
principal meio de transporte é uma alternativa não só para quem deseja evitar
congestionamentos, mas também para quem busca uma opção mais sustentável,
ecológica e financeiramente. Apesar da extensão das vias na cidade, o grande
problema é que boa parte dos motoristas não considera as bikes como um modal de
transporte como qualquer outro, conforme apontam muitos usuários.
É o caso de Fernando
Freitas, um cicloativista que faz parte do Movimento de Ciclistas em Sorocaba (MCS),
um grupo engajado pela melhoria nas condições de mobilidade para aqueles que
usam bicicletas na cidade. No caso dele, usar a bike como único meio de transporte
já faz parte de sua história pessoal; ele relembra que ganhou sua primeira bike
ainda quando criança e, desde então, nunca mais a abandonou. “A minha bicicleta
já faz parte da minha rotina, eu a uso cinco dias por semana. Ela é meu único
transporte. Só quando está chovendo que eu acabo optando pelo transporte
coletivo ou privado”, ele conta.
Freitas trabalha como
professor de Geografia na escola Estadual Lauro Sanches, localizada na zona
norte de Sorocaba. Ele conta: “Da minha casa, no Jardim Europa, até a escola
Lauro Sanches, eu gasto 25 minutos de bike. De ônibus, eu perderia
aproximadamente 60 minutos, além de ser muito mais estressante, já que você
acaba indo apertado e de pé. Indo de bike eu posso acordar 30 minutos mais
tarde e, durante meu trajeto, já vou pensando em como será a aula. Quando chego,
estou cheio de adrenalina.”
De acordo com uma
pesquisa realizada pelo MCS, segurança e trânsito aparecem em primeiro lugar na
lista de problemas enfrentados pelos ciclistas da cidade, em 43% das respostas
das pessoas entrevistadas.
O professor conta que
já foi fechado várias vezes e que os motoristas passam gritando para ele ir
pedalar na calçada. “Existe o senso comum de que lugar de ciclista é apenas na
ciclovia. Eu não vejo dificuldade em ter uma bicicleta e um carro
compartilhando a mesma via. Mas, a partir do momento que não se tem sinalização
e respeito ao ciclista, isso se torna um problema”, afirma.
Mesmo utilizando
acessórios de segurança e seguindo as normas de trânsito, a lei não evita que
ciclistas como Freitas continuem se sentindo invisíveis no trânsito. “Eu sempre
opto por usar roupas e acessórios com cores chamativas. Geralmente eu uso
capacete vermelho e tênis colorido; já quando chove, utilizo capa de chuva da
cor laranja, para que os motoristas consigam me ver. Mas isso, na maioria das
vezes, não impede que haja conflitos”, relata.
O ímpeto de separar a
bicicleta dos outros veículos é apenas um dos desafios enfrentados pelos
ciclistas. Segundo a pesquisa do MCS, infraestrutura apareceu como principal
problema para 33,8% dos entrevistados. A cidade de Sorocaba, que já foi
inspiração nacional para as estruturas cicloviárias, hoje apresenta alguns
problemas: são exemplos, conforme a pesquisa aponta, a remoção da ciclofaixa da
Rua Paes de Linhares, a retirada da faixa de lazer da Av. Dr. Afonso Vergueiro
e as obras sem implementação de alternativas na Av. Itavuvu.
As consequências da
remoção da ciclofaixa da Av.Itavuvu refletem diretamente no trajeto de Freitas:
“Antigamente, eu realizava apenas 70% do trajeto fora da ciclovia. Hoje, com as
ciclovias da Avenida Itavuvu subtraídas por causa da BRT, eu faço 100% do caminho
no asfalto.”
Outro ponto destacado
por Freitas é a falta de conexão das ciclovias entre os bairros. “Falta ligação
de ciclovias para os iniciantes. Para mim, que pedalo há muito tempo, não é um
problema precisar andar no asfalto, mas as pessoas que pretendem começar a
pedalar acabam sendo impedidas ou até desistindo”, ele opina.
As condições de
conservação também devem ser consideradas. Segundo o ciclista, a manutenção
acontece adequadamente em localidades como o Parque das Águas, mas não de forma
uniforme. “Nós do Movimento dos
Ciclistas até mapeamos para a prefeitura os lugares da cidade nos quais
existiam buracos e falta de manutenção, mas por enquanto não houve resultados”,
afirma.
Para Bruno Melnic, o
líder do MCS, não são somente os ciclistas que são afetados pela falta de
ciclovias na cidade. Ele defende que Sorocaba carece de investimentos dedicados
exclusivamente à mobilidade ativa: pedestres, ciclistas e cadeirantes. “Faltam
investimentos em projetos de traffic calming
— conjunto de medidas que
inclui a adaptação do volume, da velocidade e do comportamento no tráfego, para
que as ruas sirvam a todos e não apenas aos carros”, completa.
Agência Focs / Jornalismo Uniso
Texto: Daniele Gonzales e Fernanda Sena
Imagens: Daniele Gonzales
Imagens: Daniele Gonzales
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