A exemplo de outros grandes centros, o trânsito congestionado na cidade
é uma realidade que demanda um sistema eficiente de transporte coletivo
Em um momento em que o tema da mobilidade urbana é
bastante discutido, Sorocaba tem apresentado uma condição complicada de
locomoção viária, sobretudo nos horários de maior movimento dos dias úteis.
Congestionamentos e ônibus cheios indicam que alternativas de transporte
coletivo se fazem adequadas para aliviar as principais vias da cidade.
A funcionária pública Fernanda Mariano, de 36 anos,
utiliza diariamente os ônibus e considera que as pessoas que preferem se
locomover com seus carros o fazem devido ao conforto, à segurança e à garantia
de chegar no horário em seus compromissos. “Para incentivar as pessoas a deixar
seus veículos em casa e utilizar o serviço público de transporte, deve haver
benefícios como ônibus menos lotados, mais segurança nos pontos, rapidez na
chegada e no trajeto, além da regularidade nos horários”.
Nesse sentido, a Prefeitura de Sorocaba iniciou, em
setembro, as obras para a instalação de um sistema de ônibus rápido na cidade
chamado BRT (Bus Rapid Transit). O projeto inicial é de duas linhas que
interligarão a Zona Norte à Sul e a Zona Leste à Oeste. Essa alternativa de
transporte contará com 68 quilômetros de corredores, sendo uma parte restrita
para os ônibus, com desembarque pela esquerda dos coletivos, e outra de faixas
exclusivas, com acesso pela direita dos veículos.
De acordo com a prefeitura, a previsão é de que o
sistema, que será integrado aos terminais São Paulo e Santo Antônio, seja
entregue até setembro de 2020 e atenda entre 150 mil e 180 mil passageiros por
dia, reduzindo o tempo das viagens em até 20%.
Fernanda considera que o atual sistema de transporte
público é caro, demorado e desconfortável pela lotação, mas se diz otimista com
a chegada dos ônibus rápidos. “Espero que melhore o fluxo do trânsito e dê mais
conforto aos passageiros durante o trajeto”.
Ainda conforme informações da Prefeitura de Sorocaba, a
linha Norte-Sul percorrerá a Avenida Itavuvu, Avenida Ipanema, Rua Comendador
Oeterer, Rua Hermelino Matarazzo, Terminal Santo Antônio, seguindo até a
Avenida Antônio Carlos Cômitre. Os ônibus da linha Leste-Oeste transitarão pela
Avenida São Paulo, Terminal São Paulo, Centro, Avenida Gal. Carneiro e Avenida
Armando Pannunzio.
Trens suburbanos de superfície
Outra possibilidade de transporte coletivo para uma
cidade que está chegando a 650 mil habitantes e é, desde 2014, sede da RMS
(Região Metropolitana de Sorocaba), seria a implantação do modal ferroviário de
superfície.
A concepção, mencionada em entrevistas pelo prefeito José
Crespo inicialmente para interligar Sorocaba a São Paulo, poderia se expandir
às cidades vizinhas. Fernanda acredita que esse sistema de locomoção por
trilhos beneficiaria muito os moradores locais. “Linhas de trens suburbanas
poderiam melhorar bastante a qualidade do transporte na região, pois as viagens
de Sorocaba para outras cidades levariam menos tempo e acho que o valor das
passagens poderia ser mais acessível aos usuários”, opina a funcionária
pública.
Esse sistema de trens de superfície poderia aproveitar
algumas linhas já existentes, a área de 199 mil metros quadrados do complexo
ferroviário, além do histórico da cidade de ser o berço de uma das ferrovias
mais tradicionais do país, a Estrada de Ferro Sorocabana.
Eric Mantuan, de 27 anos, é jornalista e pesquisador do
modal ferroviário. Para ele, a instalação da estrada de ferro deu início ao
ciclo econômico mais importante da cidade. “Sem desmerecer os períodos do
tropeirismo e das indústrias têxteis, pois cada um teve sua importância para o
desenvolvimento de Sorocaba, mas o que fez a cidade sair do patamar que tinha
no cenário de 1870 e ter a influência de hoje, como sede de uma região
metropolitana, foi a ferrovia”.
Eric, que também é presidente da Associação Movimento de
Preservação Ferroviária do Trecho Sorocabana, salienta que todo país com
planejamento de mobilidade urbana que priorize a eficiência deveria considerar
a utilização das vias férreas. “Uma das principais vantagens do transporte por
trilhos é a ausência de congestionamento. Além disso, o trem polui menos; é
mais barato, porque pode levar muito mais pessoas; é mais seguro; e é mais
confortável”, argumenta ele.
Heranças da Estrada de Ferro Sorocabana
Quem transita pelas ruas e avenidas de Sorocaba inevitavelmente
se depara com as marcas e reflexos do que a Estrada de Ferro Sorocabana legou à
cidade. Seja de ônibus, de carro, de bicicleta ou mesmo durante uma caminhada,
a herança da ferrovia se apresenta até aos olhares mais desatentos.
Estação Ferroviária de Sorocaba, atualmente. O local, inaugurado em 1875 e reformado e ampliado em 1930, foi porta de entrada para o desenvolvimento da cidade. |
Inaugurada em 1875, a linha férrea inicialmente ligava
Sorocaba a São Paulo e tinha como objetivo principal transportar a produção de
algodão da região para suprir a demanda fabril inglesa à época. A influência da
Sorocabana, constituída desde esse período, está presente não só nos
patrimônios materiais como a estação e os trilhos, mas também na formação
demográfica e geográfica dos bairros da cidade, tendo sido fundamental em seu
desenvolvimento econômico.
A implantação da linha férrea
proporcionou a vinda de diversas fábricas têxteis para a região entre o final
do século XIX e começo do século XX, fato que mais tarde tornou Sorocaba
conhecida por Manchester Paulista. O apelido fazia referência à cidade inglesa
de Manchester, considerada um grande polo industrial àquele momento.
O economista
Geraldo Almeida, de 56 anos, explica essa ligação. “A partir da chegada da
ferrovia, temos a gênese da indústria têxtil em Sorocaba, aproveitando o
algodão e as pré-condições existentes para a instalação de fábricas de tecidos.
São ciclos interligados, pois um fato vai puxando o outro. A estrada de ferro
mudou o caráter econômico da cidade e atraiu a industrialização”.
Ainda segundo o economista, no começo do século XX, ou se
trabalhava na ferrovia ou na indústria têxtil. Ele também explica como a
condição geográfica dos bairros foram influenciados pela estrada de ferro. “O que
hoje conhecemos como Além Linha e Além Ponte surgiram como vilas operárias. A
ferrovia foi um fator de transformação e acabou mudando o perfil de Sorocaba em
vários sentidos”, ressalta Geraldo.
Texto: Eduardo Sorrilha - Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)
Fotos: Divulgação - / Prefeitura de Sorocaba | Eduardo Sorrilha - Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)
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