segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O desafio da mobilidade urbana em Sorocaba


A exemplo de outros grandes centros, o trânsito congestionado na cidade
é uma realidade que demanda um sistema eficiente de transporte coletivo





Em um momento em que o tema da mobilidade urbana é bastante discutido, Sorocaba tem apresentado uma condição complicada de locomoção viária, sobretudo nos horários de maior movimento dos dias úteis. Congestionamentos e ônibus cheios indicam que alternativas de transporte coletivo se fazem adequadas para aliviar as principais vias da cidade.

A funcionária pública Fernanda Mariano, de 36 anos, utiliza diariamente os ônibus e considera que as pessoas que preferem se locomover com seus carros o fazem devido ao conforto, à segurança e à garantia de chegar no horário em seus compromissos. “Para incentivar as pessoas a deixar seus veículos em casa e utilizar o serviço público de transporte, deve haver benefícios como ônibus menos lotados, mais segurança nos pontos, rapidez na chegada e no trajeto, além da regularidade nos horários”.

Nesse sentido, a Prefeitura de Sorocaba iniciou, em setembro, as obras para a instalação de um sistema de ônibus rápido na cidade chamado BRT (Bus Rapid Transit). O projeto inicial é de duas linhas que interligarão a Zona Norte à Sul e a Zona Leste à Oeste. Essa alternativa de transporte contará com 68 quilômetros de corredores, sendo uma parte restrita para os ônibus, com desembarque pela esquerda dos coletivos, e outra de faixas exclusivas, com acesso pela direita dos veículos.

De acordo com a prefeitura, a previsão é de que o sistema, que será integrado aos terminais São Paulo e Santo Antônio, seja entregue até setembro de 2020 e atenda entre 150 mil e 180 mil passageiros por dia, reduzindo o tempo das viagens em até 20%.

Fernanda considera que o atual sistema de transporte público é caro, demorado e desconfortável pela lotação, mas se diz otimista com a chegada dos ônibus rápidos. “Espero que melhore o fluxo do trânsito e dê mais conforto aos passageiros durante o trajeto”.

Ainda conforme informações da Prefeitura de Sorocaba, a linha Norte-Sul percorrerá a Avenida Itavuvu, Avenida Ipanema, Rua Comendador Oeterer, Rua Hermelino Matarazzo, Terminal Santo Antônio, seguindo até a Avenida Antônio Carlos Cômitre. Os ônibus da linha Leste-Oeste transitarão pela Avenida São Paulo, Terminal São Paulo, Centro, Avenida Gal. Carneiro e Avenida Armando Pannunzio.

Trens suburbanos de superfície

Outra possibilidade de transporte coletivo para uma cidade que está chegando a 650 mil habitantes e é, desde 2014, sede da RMS (Região Metropolitana de Sorocaba), seria a implantação do modal ferroviário de superfície.

A concepção, mencionada em entrevistas pelo prefeito José Crespo inicialmente para interligar Sorocaba a São Paulo, poderia se expandir às cidades vizinhas. Fernanda acredita que esse sistema de locomoção por trilhos beneficiaria muito os moradores locais. “Linhas de trens suburbanas poderiam melhorar bastante a qualidade do transporte na região, pois as viagens de Sorocaba para outras cidades levariam menos tempo e acho que o valor das passagens poderia ser mais acessível aos usuários”, opina a funcionária pública.

Esse sistema de trens de superfície poderia aproveitar algumas linhas já existentes, a área de 199 mil metros quadrados do complexo ferroviário, além do histórico da cidade de ser o berço de uma das ferrovias mais tradicionais do país, a Estrada de Ferro Sorocabana.

Eric Mantuan, de 27 anos, é jornalista e pesquisador do modal ferroviário. Para ele, a instalação da estrada de ferro deu início ao ciclo econômico mais importante da cidade. “Sem desmerecer os períodos do tropeirismo e das indústrias têxteis, pois cada um teve sua importância para o desenvolvimento de Sorocaba, mas o que fez a cidade sair do patamar que tinha no cenário de 1870 e ter a influência de hoje, como sede de uma região metropolitana, foi a ferrovia”.

Eric, que também é presidente da Associação Movimento de Preservação Ferroviária do Trecho Sorocabana, salienta que todo país com planejamento de mobilidade urbana que priorize a eficiência deveria considerar a utilização das vias férreas. “Uma das principais vantagens do transporte por trilhos é a ausência de congestionamento. Além disso, o trem polui menos; é mais barato, porque pode levar muito mais pessoas; é mais seguro; e é mais confortável”, argumenta ele.

Heranças da Estrada de Ferro Sorocabana

Quem transita pelas ruas e avenidas de Sorocaba inevitavelmente se depara com as marcas e reflexos do que a Estrada de Ferro Sorocabana legou à cidade. Seja de ônibus, de carro, de bicicleta ou mesmo durante uma caminhada, a herança da ferrovia se apresenta até aos olhares mais desatentos.
 
Estação Ferroviária de Sorocaba, atualmente. O local, inaugurado em 1875 e
reformado e ampliado em 1930, foi porta de entrada para o desenvolvimento da cidade.
Inaugurada em 1875, a linha férrea inicialmente ligava Sorocaba a São Paulo e tinha como objetivo principal transportar a produção de algodão da região para suprir a demanda fabril inglesa à época. A influência da Sorocabana, constituída desde esse período, está presente não só nos patrimônios materiais como a estação e os trilhos, mas também na formação demográfica e geográfica dos bairros da cidade, tendo sido fundamental em seu desenvolvimento econômico.

A implantação da linha férrea proporcionou a vinda de diversas fábricas têxteis para a região entre o final do século XIX e começo do século XX, fato que mais tarde tornou Sorocaba conhecida por Manchester Paulista. O apelido fazia referência à cidade inglesa de Manchester, considerada um grande polo industrial àquele momento.

O economista Geraldo Almeida, de 56 anos, explica essa ligação. “A partir da chegada da ferrovia, temos a gênese da indústria têxtil em Sorocaba, aproveitando o algodão e as pré-condições existentes para a instalação de fábricas de tecidos. São ciclos interligados, pois um fato vai puxando o outro. A estrada de ferro mudou o caráter econômico da cidade e atraiu a industrialização”.

Ainda segundo o economista, no começo do século XX, ou se trabalhava na ferrovia ou na indústria têxtil. Ele também explica como a condição geográfica dos bairros foram influenciados pela estrada de ferro. “O que hoje conhecemos como Além Linha e Além Ponte surgiram como vilas operárias. A ferrovia foi um fator de transformação e acabou mudando o perfil de Sorocaba em vários sentidos”, ressalta Geraldo. 




Texto: Eduardo Sorrilha - Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)
Fotos: Divulgação - / Prefeitura de Sorocaba | Eduardo Sorrilha - Agência Experimental de Jornalismo (AgênciaJOR/Uniso)

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