A
terceira noite da Semana da Comunicação 2018, na Uniso, na última quinta-feira
(27) foi marcada por uma conversa aberta entre escritores e estudantes do curso
de Jornalismo. Isa Feijó e André Fidalgo Martins, alunos do sexto período e já
autores de livros, dividiram a mesa com o jornalista convidado, Carlos Alberto
Soares, também conhecido como Beto Soares, que publicou recentemente seu livro
“Jornalismo de Rua”, no qual conta episódios marcantes de seus 20 anos de
carreira. A mesa-redonda buscou provocar nos presentes uma reflexão acerca da
literatura dentro e fora do viés jornalístico, e alimentar as curiosidades
sobre como é ser escritor atualmente.
“Antes
de jornalistas, somos contadores de histórias”, foi com essa frase que o
professor Guilherme Profeta, do curso de Jornalismo, abriu as discussões da
noite. Frase essa, que parece ilustrar bem o trabalho de Carlos Alberto. Mesmo
tendo trabalhado a maior parte do tempo na televisão, ele possui um currículo
extenso e diversificado, tendo passado por veículos como a TV Tem e TV
Sorocaba, fazendo reportagens sobre todo tipo de assunto e conhecendo histórias
únicas, algumas das quais ele conta em sua obra autobiográfica.
Carlos Roberto Soares fala sobre sua carreira e dificuldades |
Carlos
Alberto lembra como foi tocante ver pela primeira vez seu livro publicado, como
o resultado de toda a sua vivência profissional. “Foi uma emoção muito grande
quando eu cheguei à gráfica e vi aquela pilha de livros, com a minha estampa.
Era a minha história, a minha vida e, ao ler o livro já editado, todo pronto,
eu chorei”. Ao longo do evento, ele falou da perseverança que o fez superar
inúmeros desafios e ressaltou a importância da leitura para qualquer pessoa, em
especial para os jornalistas. “Quando criança, minha mãe falava que se eu fosse
bem na escola, no final do mês, no dia de pagamento, ela ia me dar um livro”,
ele conta.
Isa
Feijó, antes de ingressar no curso de jornalismo, já era escritora. Com 29
anos, possui nove livros, sendo a maioria romance sobrenatural, e o mais lido
“Não é Real”, um romance policial. Já o português André Fidalgo Martins,
publicou no ano passado seu primeiro livro, Blackout, que escreveu durante sua
fase de adaptação ao Brasil. A ficção é uma paixão muito presente na vida de
ambos. Carlos Alberto enxerga isso de forma muito positiva, e conhecer um pouco
da trajetória dos dois jovens escritores lhe foi muito gratificante. “A cabeça
do jornalista tem que estar aberta a toda a linguagem, e hoje a ficção me
motivou muito”, comenta.
Uma
das questões abordadas no encontro foi o jornalismo literário, que se fez muito
presente nos questionamentos dos alunos que estavam prestigiando o evento,
gerando reflexões acerca da influência da tecnologia no fazer jornalístico e da
mecanização da profissão, o que revelou discordâncias quanto à ideia de o
jornalista um dia se tornar obsoleto ou dispensável na tarefa de transmitir
informações. Para os escritores que estavam ali presentes, o jornalismo vai
além de simplesmente informar fatos e dados. “Eu tenho que chamar a atenção de
quem está lendo”, argumenta Carlos Alberto. De acordo com eles, a bagagem
cultural pode ser essencial no processo criativo capaz de impedir que o
jornalismo se torne mecanizado.
Administradora
de dois blogs culturais, Isa fala sobre a forma como as referências culturais
podem influenciar no trabalho jornalístico. “Nós somos uma junção de todas as
influências que temos, de todas as experiências, e eu tive muita influência,
desde pequena, de várias culturas diferentes, isso forma quem eu sou, e
escrever, de alguma forma, extravasa isso”, ela explica.
André Martins conta sobre sua história e sua vinda de Portugal ao Brasil |
Da
mesma forma, para André, o jornalismo pode ter uma contribuição importante para
a produção literária. “O processo de escrever personagens e diálogos teve
influência, não do jornalismo como teoria ou estudo, mas das minhas
experiências dentro do jornalismo, tanto as pessoas que eu entrevistei, as
personalidades que eu conheci, e até o processo de escrever perguntas para
elas. Isso tudo me deu um conhecimento que eu não teria de outra forma”.
As
ferramentas digitais têm ganhado um espaço significativo na vida de muitos
escritores, e isso também foi abordado na mesa-redonda. Isa tem a maioria dos
seus livros publicados online, como na plataforma digital Wattpad, onde o escritor
pode publicar suas obras capítulo por capítulo e acompanhar o retorno dos
leitores. Com isso, o contato entre autor e leitor cresce. As críticas e
sugestões se fazem muito presentes, mas Isa, André e Carlos Alberto concordaram
ao afirmar que essa relação, apesar de interessante, não deve afetar o rumo da
narrativa, pois isso compromete a identidade que o autor imprime na obra. Ao
final, discutiram os diferentes caminhos para a publicação de um livro,
levantando possibilidades a partir de suas experiências e inspirando os
escritores e aspirantes na plateia que sonham em ter uma obra literária
publicada. “Para mim, a palestra mais interessante foi a de hoje, porque eu
gosto muito de escrita, e ver que alunos daqui estão escrevendo e publicando é
uma coisa mágica, vê-los realizando isso é sinal de que quem sonha alcança”,
diz Nathaly Galacci, aluna do segundo período de Jornalismo.
Texto: Antony
Isidoro - Agência Experimental de Jornalismo (Agencia/JOR Uniso)
Fotos: Jéssica Meira - Agência Experimental de Jornalismo (Agencia/JOR Uniso)
0 comentários:
Postar um comentário